top of page

William Reich

 

A terapia reichiana é uma abordagem terapêutica que atua no nível corporal, psicológico e bioenergético, considerando o indivíduo como uma unidade, na qual corpo e mente formam um sistema integrado. Como resultados finais, ela proporciona: autoconhecimento; soltura física e emocional, seguida de aumento do fluxo energético; mudanças de comportamento, especialmente nos padrões defensivos negativos; e mudanças efetivas e duradouras.
Em suas pesquisas, Wilhelm Reich percebeu que os distúrbios psicoemocionais apresentavam uma correlação com distúrbios corporais e vice-versa. A esses distúrbios, Reich deu o nome de couraça, por justamente conterem a emoção.
Em sua formação, a couraça provoca alterações musculares, viscerais, respiratórias, sensoriais, circulatórias e hormonais, organizando-se no corpo em sete segmentos: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. Insatisfeito com os resultados da psicanálise tradicional, procurou melhores resultados terapêuticos aliando à terapia verbal o trabalho corporal, com o objetivo de dissolver a couraça, liberar impulsos e emoções reprimidas, podendo elaborá-los posteriormente.
Reich descobriu no organismo a existência de uma energia específica denominada bioenergia, ou energia orgone, que percorre o corpo de acordo com as funções emocionais e fisiológicas. Retomando o conceito de couraça, Reich percebeu que elas promovem um bloqueio no fluxo da energia orgônica, provocando o surgimento de regiões com deficiência de energia ou ainda com energia em excesso, predispondo o organismo a doenças.

Origem do nome

Psicoterapia reichiana, vegetoterapia caractero-analítica ou terapia orgônica são os principais nomes dessa abordagem, que enfoca os sistemas vegetativos do paciente, a saber: simpático e parassimpático.

O nome psicoterapia reichiana faz referência direta ao seu fundador Wilhelm Reich, que deu continuidade aos estudos da psicanálise, aliando-os à abordagem corporal.

Inicialmente chamada de vegetoterapia caractero-analítica, o termo leva em consideração o nome mais acessível, por unir a palavra terapia, de origem grega, que significa tratar ou cuidar, com o sistema nervoso vegetativo do organismo, responsável pelas funções autônomas do indivíduo, relacionando-as ainda à palavra caracterologia, que diz respeito ao estudo do caráter.

O termo faz referência à compreensão obtida por Reich de que uma inibição exagerada poderia ocasionar uma alteração no sistema vegetativo, causando aumento da tensão, compreendida como angústia. O caráter individual de cada um, segundo Reich, é assim formado, e o método tinha como objetivo analisar essas características e oferecer ao paciente uma condição melhor de vida.

De forma resumida, faz referência à análise do caráter à luz do funcionamento biofísico. Quanto ao termo orgonoterapia ou terapia orgônica, adotado por Reich na década de 1950, faz menção à energia orgônica, descoberta por Reich, a energia vital presente em todos os organismos vivos, livre de massa, a energia cósmica primordial.

O termo passa a ser utilizado quando Reich funda o Instituto Orgon. Portanto, em qualquer um dos nomes escolhidos, a ideia a ser passada é a de uma terapia que visa reestabelecer o fluxo energético saudável do organismo, considerando a base fisiológica associada à psique.

Criação

Base psicanalítica. A partir da teoria da libido, Wilhelm Reich incluiu os processos biológicos e psicológicos básicos para desenvolver um novo método que desse conta de questões que a psicanálise, com a sua técnica baseada na fala, não abarcava. O equilíbrio entre a carga e a descarga da libido impediria o adoecimento do indivíduo; porém, Reich afirma que, enquanto a libido pode ser descarregada de diversas maneiras, o excesso de carga energética só poderia ser liberado pelo orgasmo. A essa capacidade, Reich deu o nome de potência orgástica, que atingida no ato sexual satisfatório. O conservadorismo da sociedade, em contrapartida, favorece o acúmulo dessa carga libidinal.

Expressão corporal. Em seus primeiros trabalhos, Reich percebeu que, durante uma sessão de análise, um paciente, deitado, fala livremente, até que seu corpo começa a expressar-se; então, é tomado por um acesso de raiva tamanho que seu pescoço e seu rosto ficam vermelhos. Reich passou a observar que não só o conteúdo verbal tinha importância, mas o modo como o conteúdo era expresso. Fica evidente para Reich que o conteúdo verbal remete a memórias corporais, podendo e devendo ser expressas de forma a dissolver a tensão acumulada. O sistema vegetativo é tido como a fonte para essas excitações somáticas, enquanto o ego surge como a ação repressora sobre elas. A partir de então, passa a estimular seus pacientes a entrar em contato com essas emoções para externá-las.

Processo psicoterápico. As suas observações clínicas, em constante experimentação, conduziram-no a ver o processo psicoterápico como um meio para permitir o fluxo de energia para todo o corpo, procurando dissolver os blocos da couraça muscular. Esses blocos estariam no organismo apenas distorcendo e destruindo sentimentos naturais, coibindo sentimentos sexuais e impedindo o orgasmo completo e pleno. Reich percebeu que a bioenergia era bloqueada na área pélvica, acreditando que a terapia deveria ser a libertação dos bloqueios do corpo e a obtenção da capacidade para o orgasmo sexual.

Prazer. É visto como um livre movimento de energia que vem do âmago do organismo em direção à periferia. Em oposição a ele, a ansiedade surge como reflexo da contração dessa energia para longe do contato com o mundo externo. Nesse sentido, é dada a ênfase na importância de se criar meios para a livre expressão de sentimentos sexuais e emocionais dentro de um relacionamento amoroso maduro.

Resistências caracterológicas. A percepção das defesas individuais, presentes em cada ser humano, levou Reich a observar que o caráter pessoal se forma de acordo com um padrão de defesas consistentes e habituais. Essas defesas seriam as respostas que o indivíduo encontra para lidar com a dor, frustração ou trauma, provocando um enrijecimento do corpo, do pensamento e do comportamento, podendo levar a um aprisionamento da capacidade pulsativa natural.

Inicialmente, Reich abordou tal padrão em termos psicológicos, associando as formas de resistências caracterológicas a padrões específicos de couraça muscular. Se, por um lado, a couraça protege o organismo da dor, por outro lado ela anestesia o prazer pela vida. Assim, observou a importância de perder-se e dissolver a couraça, além de lidar-se com o material psicológico.

Encouraçamento. O processo de encouraçamento criou duas tradições intelectuais distorcidas na base da civilização: a religião mística e a ciência mecanicista. Esta última, priorizando a perfeição, não respeita a natureza, que é inexata. Em relação aos místicos, Reich afirma que eles buscam a energia vital fora do corpo, em uma alma hipotética, o que distancia o ser humano do contato com a própria natureza física.

Anéis corporais. Reich observa que as couraças se formam em sete segmentos, chamados de anéis:

1º nível: olhos, ouvidos e nariz;

2º nível: boca;

3º nível: pescoço;

4º nível: tórax;

5º nível: diafragma;

6º nível: abdômen;

7º nível: pélvis.

O trabalho da vegetoterapia se dá em cada nível, de forma a promover a soltura das tensões. Dessa forma, é possível permitir que a energia passe entre os níveis, fortalecendo-os e permitindo a expansão da saúde, bem como do prazer de viver. O crescimento ocorre através da dissolução da couraça psicológica e física, na direção da capacidade de gozar um orgasmo pleno e saudável.

A terapia reichiana visa à soltura dessas couraças, começando pelos olhos e chegando à pélvis. Para favorecer esse processo, recorre-se ao armazenamento de energia por meio da respiração profunda, ao ataque direto aos músculos mais rígidos e ao manejo das resistências emergentes.

Bioenergia. Reich vai ainda mais longe com suas inovações, ao descobrir que todas as características da transferência e da resistência estão colocadas no corpo, como um documento físico da história da vida de uma pessoa, incluindo as memórias de experiências traumáticas precoces, crenças e atitudes vistas como estratégias desenvolvidas para responder. A manifestação corporal se dá por meio de um nível baixo de energia e dos bloqueios no fluxo da energia, resultando em perda da vivacidade e personalidade, podendo acarretar em uma depressão, insegurança e desconfiança profunda, além de grande dificuldade em sentir prazer. A essa energia bioelétrica, Reich deu o nome de orgone ou bioenergia.

Energia orgônica. Nos Estados Unidos, a dedicação às pesquisas relacionadas à energia orgônica leva Reich a construir a caixa de orgônio, na qual a energia era retida do ambiente. Essa energia acumulada, segundo Reich, poderia fazer bem aos pacientes com câncer. Após alguns resultados positivos, Reich defendeu a hipótese de que essa energia poderia beneficiar ainda outras biopatias, contribuindo para restaurar a capacidade de pulsação dos corpos retesados.  

Histórico

Criador. Wilhelm Reich (1897-1957). Nascido na Galícia, na Áustria, filho de fazendeiro judeu, cresceu sob o controle do pai autoritário, nacionalista alemão, que o isolava das demais crianças dos arredores que falavam ucraniano ou iídiche.

Reich idolatrava sua mãe, muito bonita, mas uma tragédia marcou seu fim: aparentemente depois de Reich contar ao pai que a mãe tinha um caso com seu tutor, ela se suicidou. Três anos mais tarde, seu pai morreu de tuberculose, agravada pela tristeza desde a morte de sua esposa.

O irmão mais novo de Reich também vem a falecer anos mais tarde. A fazenda ficou sob seu comando, mas a guerra, em 1916, espalhou-se por suas terras, destruindo-as. Nesse mesmo ano, ele deixa a fazenda para alistar-se no exército austríaco.

Estudos iniciais. Em 1918, Reich ingressou na escola médica, em Viena, formando-se médico em 1922. Nesse meio-tempo, havia entrado para a Sociedade Psicanalítica de Viena, dando início às suas práticas na Psicanálise. Como estudante, envolveu-se na política e tentou conciliar as teorias de Freud e Marx.

Experiência com a Psicanálise. No ano em que Reich formou-se médico, em 1922, Freud fundou uma clínica psicanalítica em Viena, e Reich tornou-se seu primeiro assistente, passando a ser o vice-diretor da clínica mais adiante. Em 1924, ocupou o cargo de diretor do Seminário para Terapia Psicanalítica, primeiro instituto de treinamento para psicanalistas, o que o tornou  referência aos jovens analistas tanto para análise pessoal como para treinamento. 

A experiência de Reich como paciente na psicanálise foi marcada por interrupções com os diversos psicanalistas com quem iniciava tratamento, por razões variadas.

Em 1927, Reich procurou fazer análise com Freud, que se recusou a atendê-lo pelo fato de ele não ser membro do círculo psicanalítico profundo. Teve início então um sério conflito entre ambos, fortalecido pelo aumento das diferenças teóricas resultantes do envolvimento marxista de Reich e da insistência do mesmo de que toda neurose seria fruto de insatisfação sexual.

No mesmo ano, um de seus mais importantes livros, A função do orgasmo, foi lançado, dando conta das suas recentes descobertas. Também nessa época, Reich afastou-se de tudo por conta de uma tuberculose, que o obrigou a internar-se em um sanatório na Suíça por alguns meses.

Berlim. Em 1930, Reich procurou Sandor Radó (1890-1972), um psicanalista húngaro em evidência na época, para ser seu analista pessoal, em Berlim. Sua ida à Alemanha também tinha ouro motivo: suas atividades políticas haviam deixado os psicanalistas vienenses apreensivos.

Na Alemanha, envolveu-se mais profundamente com o movimento de higiene mental orientado pelos comunistas, levando-o a viajar por diversas cidades alemãs fazendo conferências e ajudando a estabelecer centros de higiene. 

Contudo, os comunistas não toleraram sua insistência em programas radicais de educação sexual, culminando em sua expulsão do partido comunista alemão, em 1933. No ano seguinte, os psicanalistas também o expulsaram da Associação Internacional de Psicanálise, por não suportarem mais o envolvimento político de Reich.

Nazismo. Por conta da ascensão de Hitler ao poder, Reich deixou a Alemanha em direção à Rússia, acreditando que poderia desenvolver a revolução das massas por meio da satisfação plena da sexualidade madura.

Lá, conheceu Vera Schmidt, responsável por desenvolver a educação preventiva com informações sobre a sexualidade, o que o deixou muito instigado. É nessa época que desenvolveu a teoria da satisfação sexual como caminho para a cura.

Na realidade, a sua atenção voltou-se para a potência orgástica, um achado crucial nos estudos médicos até os dias de hoje, que significa a habilidade para descarregar todo o excesso de energia e então manter estabilizado o nível de energia no organismo. Foi a partir desse achado que foi desenvolvida ainda a fórmula tensão-carga-descarga-relaxamento. 

Contudo, seu interesse político o deixou desencantado no país, uma vez que as intenções da revolução russa mudaram, e ele resolveu mudar seus próprios planos. Focou sua atenção nos estudos sobre o corpo e sua história, tendo percebido que a distância entre soma e psique não existia. Esse fato acaba por provocar ainda mais incômodo entre os psicanalistas, fazendo com que Reich tenha que mudar-se mais uma vez.

Noruega. As então recentes descobertas de Reich levaram-no a viajar para a Suécia, mas, sem visto de permanência, exigido pelos nazistas, foi obrigado a deixar o país e partir para a Dinamarca, em 1933. Porém, suas controvertidas teorias obrigaram Reich a deixar a Dinamarca, em um curto intervalo de tempo. Em apenas seis meses, ele havia sido expulso de três países e de duas principais afiliações pessoais, fazendo com que seu trabalho escrito subsequente tivesse um caráter um tanto defensivo e polêmico.

Na Noruega, no entanto, ele conseguiu se instalar e se acalmar nos três anos seguintes, fazendo conferências e conduzindo pesquisas em Psicologia e Biologia. Seu interesse voltou-se particularmente para a produção das contrações musculares e o modo de lidar com elas, levando-o ao domínio do sistema nervoso vegetativo e à antítese básica do funcionamento vegetativo, que o motivaram a utilizar o galvanômetro para medir cargas elétricas diante de estímulos. 

Em 1937, uma campanha difamatória de um jornal atacou sua ênfase na base sexual da neurose, bem como seus experimentos de laboratório com bioenergia, levando-o a se isolar. Foi um convite da Nova Escola para Pesquisa Social, em Nova Iorque, que o reanimou, em 1939, levando-o a ocupar o cargo de professor associado de Psicologia Médica. Foi também nesse ano que ele se aventurou nos estudos da energia orgônica, ou vital, que consiste em uma energia presente em toda a atmosfera, a energia primordial de todos os seres.

Instituto Orgon. Nos Estados Unidos, Reich fundou o Instituto Orgon, onde pôde dar andamento a seus estudos sobre energia orgônica, ou energia vital.

Seus experimentos de laboratório o levaram a concluir que há uma energia vital básica em todos os organismos vivos e que essa energia é a força biológica implícita ao conceito de libido da psicanálise. Reich realizou experimentos envolvendo acumuladores de energia orgônica, por volta de 1950, que consistiam em caixas e outras invenções que armazenariam e concentrariam a energia orgônica.

Segundo seus estudos, doenças resultantes de distúrbios do “aparelho automático”, tais como câncer, asma, epilepsia ou hipertensão, poderiam ser tratadas com graus variados de sucesso através do restabelecimento do fluxo normal da energia orgônica do indivíduo.

O procedimento consistia em expor o sujeito a altas concentrações de energia orgônica nesses acumuladores. Nessa época, a vegetoterapia caractero-analítica cede espaço para a “terapia orgônica”, focando na aplicação da energia orgônica pelo uso do acumulador e deixando um pouco de lado a análise do caráter, predominante até então.

Críticas e desânimo. O uso do acumulador gerou muitas críticas por parte dos médicos e das comunidades científicas, resultantes especialmente de uma experiência desastrosa na qual Reich e seus parceiros, em seu laboratório do Maine, ao interagirem a energia orgônica com a radioatividade tiveram insucessos, além de ficarem doentes, fato que exigiu o abandono do laboratório por um tempo.

Livros queimados. A Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana responsável pela promoção e proteção da saúde pública, argumentou, em 1954, que os estudos de Reich sobre o sucesso no tratamento de várias doenças com acumuladores de energia orgônica eram falsos e obteve uma ordem judicial que proibia a distribuição de acumuladores de orgone, bem como a sua utilização.

Além disso, proibiu a venda da maior parte de suas publicações, mas Reich insistiu em continuar suas pesquisas, alegando que as cortes não eram competentes o suficiente para julgar questões de cunho científico. Condenado por desacato à autoridade e sentenciado a dois anos de prisão, Reich morreu na prisão de doença cardíaca, em 1957, após a FDA ter queimado seus livros e publicações relacionadas aos acumuladores orgônicos. 

Atualidade

Hoje em dia, mais de 50 anos após a morte de Reich, sua metodologia clínica evoluiu e se aperfeiçoou muito. Seus discípulos e seguidores deram continuidade aos seus estudos, agregando novas técnicas terapêuticas e aperfeiçoando o método por meio de novas descobertas, especialmente no campo das neurociências.

A técnica da fotoestimulação ocular, por exemplo, foi aperfeiçoada com a inserção da luz em movimento; os conhecimentos da psicossomática clássica e contemporânea foram somados ao pensamento reichiano; o método EMDR (eye movement for desensitization and reprocessing) também foi adaptado para a psicoterapia reichiana; novos enfoques nas intervenções verbais e corporais, que buscavam melhor compreensão do funcionamento cerebral e do processamento de informações, de consolidação e evocação de memórias e do reflexo dos estados emocionais nestes mecanismos foram desenvolvidos.

Desde 1978 está em atividade o Orgone Biophysical Research Laboratory, fundado por James DeMeo, um estudante da época que desejou dar continuidade aos estudos de Reich sobre a energia orgônica. Diversos experimentos foram feitos em regiões de muita seca, nas quais aparatos chamados cloudbusters foram utilizados para provocar chuva.

Muitas novas escolas se formaram a partir das ideias de Reich, dando origem às escolas neorreichianas, espalhadas pelo mundo todo. Nos últimos 20 anos, pôde-se notar a presença de um significativo aumento nas produções teóricas embasadas pelo pensamento reichiano, trazendo a contribuição de novos autores às antigas ideias, tão atuais, de Reich.

Fundamentos

Análise do caráter. Modificação da técnica psicanalítica da análise dos sintomas incluindo os conceitos caráter e resistência do caráter, também desenvolvidos por Reich, no processo terapêutico.

Bioenergia. A bioenergia diz respeito, na terapia reichiana, às sensações físicas como calor ou frio, coceira, formigamento e “despertar” emocional oriundas da perda da rigidez muscular. Essas sensações seriam provenientes dos movimentos de energia vital ou biológica liberada. A mobilização e a descarga da bioenergia constituem estágios essenciais no processo de excitação sexual e orgasmo, característico a todos os organismos vivos: tensão mecânica, carga bioenergética, descarga bioenergética e relaxamento mecânico.

Caráter. Inicialmente discutido por Freud, o conceito de caráter foi elaborado por Reich, o primeiro analista a utilizar tal conceito para analisar seus pacientes, levando em consideração a interpretação da sua natureza e função. Reich considerava que o caráter de uma pessoa é composto por suas atitudes habituais, bem como por seu padrão de respostas diante de situações variadas. O estilo de comportamento, atitudes físicas e os valores conscientes também fariam parte de sua composição. A formação do caráter, no entanto, se daria por uma defesa contra a ansiedade criada pelos sentimentos sexuais das crianças e o seu consequente medo de punição. Dele derivam os termos caráter genital e caráter neurótico.

Caráter genital. Termo advindo da psicanálise, Reich adotou e configurou-o como o que denomina a pessoa que adquiriu potência orgástica, isto é, que conseguiu descarregar completamente a excitação sexual por meio das contrações corporais involuntárias. Essa soltura propiciaria a autorregulação, que favoreceria o comportamento de acordo com as próprias inclinações, e não as da sociedade. Difere do caráter neurótico, este sim funcionando de acordo com a moral compulsiva.

Couraça caracterológica. A repressão, defesa criada contra o medo da possível punição advinda dos sentimentos sexuais infantis, responsável pelo refreamento de tais impulsos, é o que dá origem à couraça caracterológica, que se configura quando as defesas se tornam cronicamente ativas ou automáticas.

O conceito inclui ainda a soma total de suas forças defensivas repressoras, organizadas dentro do ego. Os traços de caráter são, segundo Reich, diferentes dos sintomas neuróticos, na medida em que os traços de caráter são experienciados pelo indivíduo como partes integrantes da personalidade, o que não ocorre com os sintomas. O trabalho de Reich consistia em fazer com que o paciente se conscientizasse de seus traços de caráter.

Energia orgônica. Derivante de organismo e orgasmo, funciona no organismo vivo tal qual uma energia biológica específica, governando o organismo total e expressando-se nas emoções e movimentos biofísicos dos órgãos. Esse conceito foi duramente criticado, especialmente por físicos e biólogos, pertencentes às áreas que Reich teria recorrido para desenvolver o tema, pois sua pesquisa na área teria muitas contradições tanto da Física como da Biologia, mas tais contradições nunca foram cientificamente refutadas.

De acordo com Reich, a energia orgônica é livre de massa, está presente em qualquer parte, é o meio para a atividade eletromagnética e gravitacional, estando em constante movimento. Além disso, ele afirmava que altas concentrações de energia orgônica atraem a energia de ambientes menos concentrados, e a energia orgônica forma unidades centrais para a atividade criativa.

Perda da couraça muscular. O relaxamento da couraça, aliado ao trabalho analítico, mostrou-se de grande importância dentro da terapia reichiana. A cada atitude de caráter, corresponde uma atitude física; é o corpo que expressa o caráter, por meio da rigidez muscular ou couraça.

A perda da couraça propicia, ao paciente, a liberação da energia libidinal, auxiliando no processo de psicanálise. A sua conclusão é que as tensões musculares crônicas serviriam para o bloqueio da ansiedade, raiva ou excitação sexual, caracterizadas por ele como excitações biológicas. Assim, tanto a couraça física como psicológica seriam a mesma coisa, teriam a mesma função.

Na prática

Objetivo. Por meio de estimulação corporal, a terapia reichiana tem como objetivo dissolver os blocos musculares que se formam no indivíduo, elaborando os aspectos caracterológicos. Além disso, visa desenvolver um movimento energético que consiste na reativação do prazer pulsativo natural da existência em contato com si mesmo, com os outros e com o mundo. De um modo geral, se busca o caminho psicoafetivo existente desde o período gestacional até a maturação sexual.

Terapeuta. O terapeuta deve receber o treino na área terapêutica, além de ser recomendável que tenha passado por longo processo psicoterápico, tendo tido progresso em seu crescimento e desenvolvimento pessoal. Para se trabalhar com o outro, é aconselhável que seu corpo esteja desprovido de tensões e moralismos, que seu corpo possa ter o livre movimento da energia. É importante que o terapeuta reconheça os próprios limites e não tente trabalhar no outro aquilo que ainda lhe é difícil, bem como é imprescindível que ele consiga reconhecer as próprias emoções e sensações, facilitando a empatia com a do paciente e conseguindo lidar com as constrições particulares advindas do outro.

Duração. As sessões de terapia reichiana podem ter o tempo normal de uma sessão psicoterápica (50 minutos a uma hora) ou ainda se estender por até 1h20, de acordo com o terapeuta. Além disso, a quantidade de sessões semanais irá depender do progresso do paciente dentro da visão reichiana, isto é, se o corpo do paciente estiver manifestando respostas emocionais.

Método. A terapia reichiana inclui o diálogo terapêutico e uma relação entre terapeuta e paciente bastante engajada e ativa. Como método de análise, a caracterologia é utilizada, examinando e mudando os mecanismos de defesa improdutivos. São utilizados trabalhos corporais, tais como massagens e intervenções profundas no tecido muscular, além de exercícios respiratórios. Dentre as técnicas, inclui a análise de sonhos e, como resultados, oferece facilitação da expressão de sentimentos profundos. Pode ser aplicada individualmente, em casal, em família ou em grupo.

O desencouraçamento se dá na psicoterapia reichiana por meio de várias técnicas corporais aliadas à técnica verbal. Dentre elas, destacam-se:

Movimento ocular e fotoestimulação. A atenção volta-se para o primeiro segmento corporal, o dos olhos, região que contem muita tensão por conta da importante função que a visão estabelece no organismo. Barbara Koopman, discípula de Reich, desenvolveu uma técnica com estímulos de luz, que favorecem a conexão funcional entre os dois hemisférios cerebrais, beneficiando o acesso a conteúdos inconscientes e a elaboração de memórias com forte peso emocional.

Respiração. Os movimentos respiratórios estão muito associados a emoções contidas, envolvendo a inspiração ou a expiração, o diafragma ou a caixa torácica, aplicando-se técnicas adequadas às necessidades apresentadas.

Actings. Trata-se de ações corporais voluntárias repetidas, também chamadas de movimentos desbloqueantes, que reproduzem e ativam importantes funções nos processos perceptivos. Dizem respeito ainda à expressão do afeto e ao desenvolvimento ontogenético.

Técnicas de Manipulação. Incluem toques cuidadosamente selecionados a serem aplicados sobre a musculatura e sobre pontos energéticos da superfície do corpo, visando à recuperação da tonicidade e à dissolução de tensões crônicas. O toque nos pontos energéticos favorece a regularização dos fluxos bioenergéticos. 

Outras técnicas. Atualmente, a terapia reichiana utiliza trabalhos com expressão sonora, movimentos expressivos dos membros, expressões faciais, técnicas posturais e de equilíbrio, alongamento e outras vivências que permitam a elaboração de conteúdos transferenciais, relacionados às dinâmicas de relacionamento.

Principais nomes

Ola Raknes (1887-1975) Psicanalista norueguês, iniciou seu contato com Reich por conta de sua grande insatisfação com a psicanálise tradicional e, a partir de então, encontrou seu caminho. Foi o principal discípulo de Reich na Europa, difundiu a abordagem reichiana em diversos países, tendo muitos alunos em destaque.

Myron Ruscoll Sharaf (1927-1997) Americano, graduado em psicologia pela Universidade de Harvard, foi paciente, aluno e amigo de Wilhelm Reich. Divulgou as ideias de Reich em seus cursos, em Harvard.

Elsworth Baker Foi o principal discípulo de Reich nos Estados Unidos, tendo fundado o The American College of Orgonomy.

Federico Navarro (1924-2002) Médico italiano com formação em neurologia e psiquiatria. Na década de 1960, foi afastado de seu cargo como diretor em um hospital de Nápoles após lutar pelo movimento da psiquiatria democrática. Na mesma época, aproximou-se das ideias de Reich e tornou-se aluno de Ola Raknes. Trouxe uma proposta inovadora quanto à sistematização das técnicas de desencouraçamento sequencial dos segmentos, constituindo uma metodologia mais organizada – tarefa que teria sido solicitada a Raknes por Reich anos atrás e encaminhada a alguém capaz de realizá-la, segundo Raknes.

Alexander Lowen (1910-2008) Foi o expoente mais famoso por ter propagado a técnica reichiana acrescentando poucas alterações nas técnicas de intervenção corporal, popularizando a abordagem em psicoterapia corporal. À sua nova abordagem, deu o nome de Bioenergética.

Barbara Koopman. Aluna de E. Baker, foi presidente do American College of Orgonomy e desenvolveu a técnica de fotoestimulação ocular com a luz em movimento, sendo uma das técnicas mais importantes para o desencouraçamento da região ocular.

Gerda Boyesen (1922-2005) Norueguesa, foi paciente e, posteriormente, aluna de Ola Raknes, após ter se graduado em Psicologia e Fisioterapia. Tanto como aluna como paciente, percebeu a importância de aliar a abordagem corporal à verbal, tendo iniciado contato com Aadel Bulow-Hansen, com quem aprendeu técnicas de massagem que vieram a servir de base para o desenvolvimento de sua técnica, chamada psicoperistaltismo. O interesse no estresse psicológico vinculado ao sistema digestivo levou-a a aprimorar seus estudos e fundar a Psicologia Biodinâmica.  

John Pierrakos (1921-2001) O médico de origem grega, aluno e paciente de Reich, distanciou-se do autor na década de 1940 por conta do caráter de ameaça que Reich exercia para a Associação de Psiquiatria Americana. Lamentou muito esse afastamento e aproximou-se de Alexander Lowen, com quem deu origem à Análise Bioenergética. Alguns anos depois, com sua esposa, Eva Pierrakos, desenvolveu a Pathwork e a Core Energetics.

David Boadella (1931-) Um dos alunos famosos de Ola Raknes, escreveu uma importante obra sobre a vida de Reich e desenvolveu uma nova abordagem, baseada nos pressupostos reichianos, à qual denominou Biossíntese.

Eva Reich (1924-2008) Filha mais velha de Wilhelm Reich, foi bastante fiel ao pai ao longo de sua vida, mesmo após sua conturbada infância e posterior separação dos pais. Procurou respeitar as suas ideias, desenvolvendo um método um pouco menos agressivo que a terapia reichiana tradicional, chamada de Bioenergética Suave. A partir da observação do trabalho de seu pai com gestantes e crianças, nos quais aplicava toques mais suaves, desenvolveu o Toque da Borboleta, enquanto ainda estava no Harlem Hospital, onde tinha contato com bebês prematuros.

Ramificações

Bioenergética. Também chamada como terapia neorreichiana, fundada por Alexander Lowen (1910-2008), discípulo de Reich, a bioenergética tem como foco a função do corpo na análise do caráter e na terapia.

O termo adotado, bioenergia, em substituição à energia orgônica, facilitou a aceitação em meio à comunidade norte-americana, onde se desenvolveu essa escola. As técnicas reichianas de respiração e muitas das técnicas de liberação emocional estão presentes na bioenergética.

A fundamentação e o embasamento nos processos pessoais – físicos, emocionais ou intelectuais – são fundamentais para a bioenergética.

Integração estrutural (Rolfing). Consiste em um sistema de remodelagem e realiviamento da postura corporal por meio de um estiramento profundo e doloroso da fáscia muscular, realizado através da manipulação profunda e direta. Foi fundada por Ida Rolf, que tem Ph.D. em Bioquímica e Fisiologia, dedicando-se ao ensino e aperfeiçoamento do sistema de integração estrutural.

O objetivo desse trabalho é favorecer o equilíbrio muscular e um melhor alinhamento em relação à gravidade, o que leva a uma distribuição equilibrada do peso nas principais partes do corpo. Esse método trabalha principalmente com o sistema fascial, o tecido conjuntivo que sustenta e liga os sistemas muscular e esquelético, por meio do estiramento desse tecido a fim de recuperar o equilíbrio e a flexibilidade.

Normalmente, a integração estrutural se dá em uma série de dez sessões com duração de uma hora cada, trabalhando em partes específicas do corpo sem abordar diretamente os conteúdos psicológicos que podem emergir ao longo do processo.

Biodinâmica. Essa abordagem neorreichiana, que integra psicoterapia e massagem, foi desenvolvida pela psicóloga e fisioterapeuta norueguesa Gerda Boyesen (1922-2005), na década de 1960, em Londres.

A proposta é incentivar o autoconhecimento, a potência e a criatividade por meio da ênfase no cuidado com a relação terapêutica, considerando cada pessoa como única. Assim, as intervenções propostas são adaptadas às necessidades e às possibilidades pessoais, favorecendo a conscientização do que está oculto.

A Psicologia Biodinâmica considera-se uma visão de mundo em que corpo e mente são elementos de um mesmo organismo, integrando, de modo sistêmico, técnicas inovadoras de massagem, toque, associação livre de ideias e de movimentos, exercícios mobilizadores e a elaboração simbólica a partir da fala, dos sonhos e da imaginação.

Além da base reichiana, a psicodinâmica, as neurociências e a psicanálise winnicottiana compõem a sua fundamentação.

Biossíntese. É uma psicoterapia orientada pela psicossomática e psicodinâmica, fundada por David Boadella. Teve como principais influências Wilhelm Reich, Ola Raknes, Gerda Boysen, Alexander Lowen e Stanley Kelleman, quanto à energia libidinal; Otto Rank e Francis Mott quanto à experiência pré-natal; e Melanie Klein e Frank Lake citando as relações objetais.

Como conceito central, considera a existência de três correntes energéticas fundamentais fluindo no corpo, ligadas às camadas germinativas celulares (ectoderma, endoderma e mesoderma) do óvulo fecundado, dando origem à formação dos sistemas orgânicos. Integrar ação, sentimento e pensamento é o fundamento externo da biossíntese; o fundamento interno diz respeito à expressão da essência individual.

Bioenergética suave. É um modelo educacional e terapêutico desenvolvido por Eva Reich (1924-2008), filha de Wilhelm Reich. O processo inclui a terapia verbal e corporal bastante suave, com o objetivo de tratar e favorecer o crescimento, habilitando o indivíduo a retomar seu fluxo da sua energia vital. Inicialmente, o método foi desenvolvido para evitar o processo de encouraçamento em bebês, além de favorecer a conexão energética corporal entre pais e filhos.

Os bons resultados levaram-na a utilizá-la também em consultório, tanto em terapias familiares como com pacientes adultos, especialmente para fortalecer o vínculo e dissolver couraças.

Psicoterapia breve caractero-analítica. Elaborada por Xavier Serrano e desenvolvida por seus colaboradores, a prática traz fundamentos da psicoterapia breve analítica, da análise do caráter (Reich) e da abordagem corporal e neurovegetativa da vegetoterapia caractero-analítica.

Partindo do sintoma e dos fatores que provocam o sofrimento psíquico e somático, é feito um contrato clínico com o paciente traçando um objetivo que se deverá cumprir em um prazo de três a seis meses de trabalho, com uma sessão semanal de 50 minutos.

Normalmente, aplicam-se sessões individuais, podendo ser somadas a sessões grupais nas quais temas relacionados às dinâmicas sociais podem ser trabalhados. É adequada a pacientes que se enquadrem nessa dinâmica por motivos específicos ou financeiros que não podem realizar uma terapia profunda.

Escola pós-reichiana Federico Navarro. Após a vinda do médico italiano Federico Navarro ao Brasil, em 1988, surge um conflito decorrente de sua percepção da existência de muitas escolas ditas neorreichianas que não transmitiam fielmente os preceitos de base.

O autor, difusor da vegetoterapia e criador de diversas escolas na Europa, esteve sempre preocupado em transmitir os pressupostos reichianos e atualizá-los.

Do compromisso em estabelecer o diálogo permanente com as novas áreas do saber, aliadas ao pensamento de Reich e aprofundando suas considerações, surge a Escola. A caracteriologia pós-reichiana está fundada na compreensão do estresse ou risco vital em três diferentes fases da vida do indivíduo: vida embrionária, vida fetal e vida pós-natal.

Psicologia formativa. Essa abordagem funda-se na noção de corpo como processo somático em constante formação, unindo biologia e psicologia como parte de um contínuo formativo.

Desenvolvida por Stanley Keleman, o método consiste no estabelecimento de um diálogo com o padrão organizacional do organismo de forma a intensificá-lo e provocar uma resposta muscular que o desorganize, visando à redução do estresse. Keleman esteve muito próximo de Alexander Lowen, tornando-se membro do Instituto de Análise Bioenergética entre 1957 e 1970. No Instituto Alfred Adler, recebeu influências de Jung, Freud e Reich.

O contato com a psicologia profunda de Karlfried von Durkheim, aliado às experiências anteriores, levou-o a criar a psicologia formativa, que tem a visão do ser humano baseada na fenomenologia e crê na união entre a vida subjetiva e a somática, considerando ainda que cada evento humano faz parte de uma organização somática maior, que inclui uma atitude emocional.

Fontes e inspirações

Psicanálise. A teoria psicanalítica foi de grande importância para os fundamentos do trabalho de Wilhelm Reich. Segundo ele, a psicanálise era uma “ciência materialista”, por lidar com as reais necessidades e experiências humanas. Além disso, a psicanálise estaria baseada na dialética do conflito psíquico e sua resolução, o que muito o interessava.

O conceito psicanalítico da necessidade do ego de defender-se de forças instintivas serviu como base para que Reich desenvolvesse os conceitos de caráter e couraça caracterológica. A concepção freudiana de libido influenciou o seu trabalho com a energia vital e energia orgônica, uma vez que Reich considerava a libido uma energia psíquica real, potencialmente mensurável.

Marxismo. De acordo com Reich, a teoria psicanalítica completaria a crítica marxista da economia burguesa com uma crítica da moralidade, baseada na repressão sexual. A obra Psicologia de massas do fascismo (1933) é claramente influenciada pelas ideias de Marx.

Nela, Reich faz uma análise das raízes da ideologia do caráter no indivíduo, tópico que, segundo ele, estaria insuficientemente desenvolvido por Marx. Contudo, os interesses políticos de Reich, que o levaram a filiar-se ao partido comunista, aliados às tensões existentes entre Áustria e Alemanha, fizeram com que a Associação Alemã de Psicanálise o expulsasse.

Anos mais tarde, tanto o comunismo como o socialismo foram rejeitados por Reich, que sentiu que ambos estariam demasiadamente comprometidos a uma ideologia, à custa de considerações humanas, o que o levou considerar-se um “individualista”.

Friedrich Nietzsche (1844-1900). Ainda que indiretamente, o filósofo alemão influenciou as obras de Reich na medida em que é possível observar a crítica de Nietzsche ao conceito Cristiano de Deus presente em suas últimas obras, bem como a relação entre a forma de comportamento e os aspectos culturais interiorizados.

Da mesma forma, a discussão entre o normal e o patológico foi influenciada pelo filósofo, pois pode-se observar que Reich pede a superação e transformação desse sistema em prol do oferecimento de condições mínimas de saúde à população.

Sexualidade humana. No início de sua vida estudantil, Reich visitou Freud para procurar ajuda para organizar um seminário sobre sexologia. Seu interesse no assunto o levou a ajudar a fundar clínicas de higiene sexual, patrocinadas pelos comunistas, na Áustria e na Alemanha. Nelas, Reich desenvolvia programas que incluíam a livre distribuição de anticoncepcionais, proibição do aborto, liberdade de divórcio, educação sexual, treinamento de profissionais quanto as questões relativas à higiene pessoal e tratamento, através de punições, para as agressões sexuais.  

Interligações

Técnica de Alexander. O método consiste em expor o quanto o corpo está sendo usado de maneira ineficiente ou inadequada, mostrando meios para evitar tal uso tanto em atividade como em repouso.

Foi desenvolvido por F. Mathias Alexander, ator australiano que sofria com periódicas perdas de voz não associadas a causas orgânicas. Então, no fim do século 19, após nove anos de auto-observação, estudando a si mesmo cautelosamente, Alexander percebeu que ele fazia alguns movimentos que o prejudicavam, levando-o a desenvolver uma técnica integrada de ensino do movimento baseada em uma relação equilibrada entre a cabeça e a espinha.

Assim, as lições de Alexander envolvem uma orientação sutil e gradual ao uso mais efetivo e eficiente do corpo, e o professor deve detectar os modos pelos quais o livre movimento é bloqueado, além de observar movimentos que gerem tensões desnecessárias. Desenvolvida antes da terapia reichiana, a técnica apresenta similaridades por preocupar-se com o autoconhecimento emocional e físico.

Método Feldenkrais. Destinado à recuperação da graça natural e liberdade das quais se desfruta quando criança, trabalham-se padrões de movimento muscular que ajudem o indivíduo a encontrar o modo mais eficiente de se movimentar e eliminar tensões musculares desnecessárias, bem como excluir os padrões ineficientes adquiridos.

Moshe Feldenkrais, que desenvolveu a técnica, fez seu doutorado em Física na França e foi bastante interessado por judô, tendo inclusive elaborado seu próprio método na Europa.

O contato com Alexander, com a Ioga, Freud e Neurologia o levou a desenvolver trabalhos corporais que consistem em uma ampla gama de exercícios, desde muito pequenos até os mais complexos, procurando desenvolver facilidade e liberdade de movimentos em todas as partes do corpo.

O seu trabalho visa ao restabelecimento das conexões entre o córtex motor e a musculatura, que sofreram algum tipo de interferência, tal como mau hábito, tensão ou influência negativa.

Conscientização sensorial. O foco desse trabalho é o funcionamento do organismo total no mundo, entendido como a ecologia pessoal, englobando a busca pela compreensão de como os relacionamentos se dão, distinção entre o que é natural e o que é condicionamento.

O processo consiste em retomar o contato com o corpo, aprendendo a olhar para ele de forma a percebê-lo melhor tal qual quando éramos crianças.

De acordo com essa linha, a abordagem dos pais diante do comportamento das crianças tende a limitá-las e direcioná-las a um padrão socialmente aceito, reprimindo-as ao invés de ajudá-las perceber as próprias ideias e preferências, prejudicando a percepção do próprio ritmo.

A conscientização sensorial favorece a percepção direta, ensinando a distinguir as sensações das imagens ensinadas das internas.

Despertar sensorial. desenvolvido por Bernard Gunther, o “despertar sensorial” inclui exercícios pensados de forma a incentivar o contato das pessoas com o próprio corpo e sentido, aprendendo a tocar e ser tocada, a proteger e ser protegido.

Como resultado, os exercícios podem levar a uma maior consciência do si mesmo, bem como do mundo ao redor. Dentre eles, há exercícios de tapinhas pelo corpo, leves batidas, toques, massagens ou alongamentos. 

bottom of page