top of page

Artur Janov

 

A Terapia Primal, ou Terapia do Grito Primal, é um outro exemplo de terapia pelos estados alterados de consciência. Essa terapêutica foi criada pelo psicólogo norte americano Arthur Janov no início dos anos 60. Basicamente, essa terapia entende que as neuroses humanas são criadas a partir do chamado trauma de nascimento. A repressão da dor do parto, ou do trauma do ato de nascer seria a responsável por todo o conjunto de neuroses que surgem nos seres humanos.

O trauma do nascimento é a experiência dolorosa comum a todos que provêm das naturais dificuldades implicadas no nascer. O nascimento e o trauma que causa nos indivíduos por si só seria o responsável por uma série de conflitos interiores e exteriores, que na idade adulta se apresentam como neuroses. Essa é uma terapia considerada como “terapia de choque”, pois as experiências que ela suscita são fortes e bastante intensas.

Assim, a terapia do grito primal tem como meta produzir a catarse a partir da repetição da experiência do ato de nascer. Essa repetição teria a propriedade de produzir um alívio da carga retida, sendo possível liberá-la no momento em que ela é revivida. Neste aspecto, a terapia primal é muito parecida com a hipnose regressiva e a terapia de vidas passadas, pois a base da promoção da cura é a catarse. A ideia é provocar novamente a dor reprimida por meio da inserção num estado de consciência onde a dor do parto pode ser novamente sentida. Segundo a teoria de Janov, todas as pessoas possuem, em grau maior ou menor, a neurose presente dentro de si e em seu comportamento.

No momento de maior intensidade da experiência, onde provavelmente se revive a cena mais carregada de sentimentos reprimidos, a pessoa é incentivada a dar um grito, denominado de “grito primal”. Esse grito seria a expressão mais forte das emoções retidas e a melhor forma de colocá-las para fora de si, obtendo uma libertação da dor da neurose. Aqui reside uma diferença significativa em relação a TVP, pois apesar de se usar a catarse, não se usa o grito para o alívio das cargas.

O sistematizador dessa abordagem, inclusive, faz uma críticas as psicoterapias baseadas apenas na fala e no discurso consciente, pois, traduzindo em termos neuronais, elas lidam apenas com o córtex cerebral, que permite o raciocínio por meio da análise objetiva de questões determinadas. O raciocínio concreto nos afasta da esfera do sentimento, que é o nível onde podemos obter certas vivências capazes de liberar emoções retidas e mal elaboradas, como no caso do nascimento. O que Janov faz é criticar os psicoterapeutas que tomam como base a logoterapia ao invés de aprofundar nos estudos das terapias dos estados alterados de consciência. A partir do confronto direto dos traumas de infância e do nascimento, revive-se o incidente, e pode-se então expressar as emoções que, na época do evento, não puderam ser adequadamente vividas. Para Janov, a verdadeira cura implica uma reexperimentação da dor do trauma.

A Terapia Primal ficou bastante popular nos Estados Unidos. Tanto é assim que muitas personalidades a defenderam publicamente e deram-na mais força para sua propagação. Dentre seus defensores contam-se figuras como John Lennon, James Earl Jones e o pianista Roger Williams.

Dentre os princípios da terapia primal podemos ressaltar a ideia de que as causas da dor na infância, que depois se transformam em neuroses, são o resultado de necessidades básicas não assistidas. Janov diz que, em primeiro lugar, nossas necessidades básicas são nutrição, abrigo, segurança e conforto. Depois de alguns anos, começamos a sentir necessidade de afetos, sentimentos e emoções de outras pessoas, como carinho, respeito e compreensão. Depois, passamos a sentir como necessário o alimento intelectual e de compreensão do mundo. É simples notar como esse desenvolvimento de necessidades lembra a teoria de Maslow da hierarquia de necessidades.

Janov afirma que quando essas necessidades não são supridas por um período mais longo, o resultado passa a ser a dor, porém não a dor meramente física, mas uma dor mais interna e emocional. A dor seria o resultado da falta de uma necessidade básica específica. Segundo Janov, essa dor não dói exatamente como uma dor comum, pois ela é reprimida em seus efeitos e passa a incorporar-se no campo do sentimento.

Outras variações da terapia primal é o Processo da Nova Identidade (PNI) fundado pelo psiquiatra e psicanalista americano Daniel Casriel. O PNI é terapia feita em grupos. Os grupos terapêuticos são orientados a gritar durante a catarse, a se abraçar e a fazer afirmações positivas de necessidades básicas. Casriel chegou mesmo a criar uma comunidade terapêutica para abrigar um número maior de participantes. Outra derivação seria a chamada Psicoterapia do Biogrito de Nolan Saltzman, parecida com a de Cariel, porém o grito se realiza com a inclusão de um sentimento amoroso.

Dentre as críticas a terapia primal, parece que a principal é a que alega os perigos dessa técnica pela intensidade com que muitas vezes é aplicada. Por ser uma terapia de choque, muitos indivíduos podem ter alguns problemas decorrentes de sua prática. É o que defende, por exemplo, Gerda Boyesen, no livro “Entre a Psique e Soma”. Ela afirma que quando o terapeuta primal libera defesas demais, em níveis mais profundos, e de uma só vez, há perigo para o paciente. Quando os psicoterapeutas exageraram na dosagem de intensidade expressiva, os resultados podem ser, em suas palavras, “extraordinariamente negativas”.

Por esse motivo, é preciso ter em mente que não se deve forçar a experiência em níveis que o cliente não possa suportar e o terapeuta deve ter a competência adequada para perceber esse limite. Da mesma forma que um remédio pode curar numa dosagem e ser prejudicial em outra, o mesmo ocorre em terapias com os estados alterados. A medida correta da aplicação da técnica deve ser conhecida e é muito importante para não causar nenhum prejuízo as pessoas. É de nossa opinião que qualquer terapia ou psicoterapia, incluindo a psicanálise, podem ter efeitos muito negativos quando mal conduzidas. Por outro lado, autores de peso como Bert Hellinger , que experimentaram a terapia primal, relataram bons resultados em seu uso. Hellinger diz que, desde que fez a terapia primal “Não fiquei abalado com fortes explosões emocionais”

 

Arthur Janov, Ph. D, nasceu em Los Angeles, em 21 de agosto de 1924 ,  é um psicólogo e psicoterapeuta que se tornou famoso no início de 1970 por ter em sua carteira de clientes duas das maiores personalidades da época: John Lennon e Yoko Ono.
É o autor de The Primal Scream (O Grito Primal) e criador da Terapia Primal, psicoterapia na qual o paciente é encorajado a reviver e a expressar seus sentimentos básicos, que o terapeuta considera que podem ter sido reprimidos. No final dos anos 60, tornou-se famoso ao “descobrir”, por acaso, o que mais tarde viria a se tornar a base central de uma terapia revolucionária: o grito primal. Segundo o Dr. Janov, o grito primal não é simplesmente um grito, ele é a conseqüência de uma dor central que fica guardada, sem possibilidade de expressão. Essa dor é chamada de dor primal por ser a primeira e é a partir dela que surgem todas as neuroses que poderão acompanhar o indivíduo a vida toda.A primeira vista pode parecer estranho, mas quem já experimentou garante que funciona. Dentre as diversas personalidades que já experimentaram a Terapia Primal podemos citar Carlinhos Lira, Roland Orzabal (do Tears For Fears), e a mais famosa delas: John Lennon. Segundo dizem, o seu período mais criativo aconteceu quando ele fazia a Terapia Primal, tendo produzido o álbum Plastic Ono Band de grande sucesso na época. Ao ouvir a música Mother, pensei comigo: isto é uma sessão de Terapia Primal toltamente, cantada!

JANOV, JOHN E A TERAPIA

No dia 8 de junho de 1970 (o fato completa 42 anos amanhã), o Dr. Arthur Janov, preocupado com o comportamento de John Lennon e como parte do tratamento da Terapia do Grito Primal, o aconselhou a assistir o filme Let It Be para relaxar. John aceitou e assistiu o filme num cinema vazio em São Francisco. Com ele estavam o próprio Janov, Yoko Ono, o editor da revista Rolling Stone, Jann Wenner e a esposa dele, Jane. John Lennon chorou ao ver o filme.
Em entrevista à revista Rolling Stone, em 1970, Lennon comenta sobre o álbum: “Acho que é a melhor coisa que já fiz. É realista e verdadeiro com o Eu que vem se desenvolvendo ao longo dos anos em minha vida. Sempre escrevi sobre mim mesmo, quando era possível. Mas por causa de meus bloqueios e muitas outras coisas, só de vez em quando eu compunha especificamente sobre mim mesmo. Desta vez, tudo que escrevi é sobre mim mesmo e é por isso que eu gosto. Sou eu! E mais ninguém. É verdadeiro, só isso.”

bottom of page