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Psicogenealogia

A psicogenealogia estuda os relacionamentos familiares e suas interações. Este campo, assim como a constelação familiar de Bert Hellinger, reconhece a influência intergeracional, porém sua busca e compreensão acontece através da racionalidade.

 

A psicogenealogia se apoia na pesquisa e conhecimento de fatos e dados concretos da história familiar para trazer lembranças e a busca da conscientização da repetição de acontecimentos passados. É uma junção da psicologia e da genealogia que busca identificar fatos marcantes da história do cliente.

 

Ao se encontrar com fatos de sua história, como mortes, amores rejeitados, mudanças, exílio, sucessos e fracassos, o cliente fica mais próximo de compreender as projeções, identificações e repetições que podem estar passando de forma inconsciente entre gerações.

 

Segundo Ana Garlet, professora do Instituto Ipê Roxo, que realizou vários estudos e oficinas sobre o tema:

 

É para a história de cada um de nós que a Psicogenealogia olha. Partindo do princípio de que, quando chegamos já encontramos um sistema ao qual passamos a pertencer, esta abordagem nos mostra o quanto muitas vezes estamos presos em dramas e papéis que não são nossos e sim de alguém de nossa árvore genealógica.

 

Ela é uma abordagem que busca compreender de que maneira a história de nossos antepassados pode estar atuando sobre nossa vida presente, propondo assim caminhos para que possamos nos liberar e assumir a nossa própria identidade.

O começo da Psicogenealogia

 

 

Anne Ancelin Schützenberger

Os trabalhos da psicoterapeuta francesa Anne Ancelin Schützenberger marcam o início do conhecimento da Psicogenealogia. Anne tem formação analítica, especializada em psicodrama e dinâmica de grupo.

 

Nos anos 70, trabalhou com pacientes oncológicos onde observou a primeira vez a repetição de quadros ligados à idade ou datas de morte de algum familiar. Estes fatos a levou a estudar as ligações familiares, através da árvore genealógica.

 

Em 1988 ela lançou o livro “Meus Antepassados” (Ed. Paulus) o que fomentou o caminho para o crescimento da Psicogenealogia como é abordada atualmente. Esse movimento reforça a opinião de Anne Ancelin, que considera a Psicogenealogia muito necessária atualmente: “Nós precisamos mais do que nunca de nossas raízes”.

 

Também em meados de 80, no Chile, o dramaturgo e escritor Alejandro Jodorowsky começa a utilizar o termo psicogenealogia. Filho de imigrantes judeus, estudou e trabalhou com circo, mímica, cabala, yoga, medicina chinesa e várias outras artes e estudos alternativos.

 

O dramaturgo chileno também fez experiências com o teatro e arte, que para ele são terapêuticos e deu origem ao que ele chamou de psicomagia, uma técnica que encenava atos simbólicos e curativos na vida cotidiana, buscando liberar bloqueios presos no inconsciente.

 

3 pilares da Psicogenealogia

 

Podemos dizer que existem três fundamentos básicos desse conhecimento e que já são bem conhecidos pelos profissionais da Psicologia. São eles a Projeção, a Identificação e a Repetição.

 

Projeção – Recebemos de nossos pais, que antes mesmo do nosso nascimento já possuem em seu imaginário idéias construídas muito antes da nossa concepção. Pode ser a admiração por um irmão mais velho ou por um membro da família, ou a criação de sonhos internos em relação aos filhos.

 

Neste campo deve ser considerado também o clima psicológico, o ambiente social e o momento onde a criança é concebida. Nesta projeção, entram também o medo e as angústias dos pais. O pais projetam nos filhos o que eles experimentaram ao longo da vida.

 

Identificação – É comum a idéia de repassar o nome de familiares mais velhos como homenagem, ou mesmo nomes de personalidades, nomes místicos entre outros tipos. Esse é o início do processo de identificação que muitas vezes acontecem em quem carrega um nome originado em outra pessoa da árvore genealógica.

 

Essa identificação pode ser vista como positiva ou não. Por um lado, há o movimento de inclusão, quando a pessoa que recebeu o nome tem características aceitas e desejáveis. Porém, ao mesmo tempo, pode ser um limitador da experiência no mundo quando a pessoa é comparada como divergente no comportamento daquela que obteve o nome originalmente.

 

Mas a identificação vai para muito além da escolha do nome. Muitas vezes nos identificamos com pessoas de nossa família mesmo sem tê-las conhecido. É muito comum a identificação com pessoas que foram esquecidas ou excluídas do sistema familiar por algum comportamento ou ação que tenha ferido os valores que eram aceitos pela árvore.

 

Porém, como nos ensina Anne Ancelin, o insconsciente tem boa memória e trará de volta todos aqueles que foram excluídos, pois todos precisam ter seu lugar de pertencimento garantido. Ana Garlet nos explica assim: “O que é, é. Quem faz parte, faz parte sem nenhuma distinção.”

 

Repetição – Como resultado do sistema de projeção e identificação, nos colocamos em um movimento de repetição, geralmente de forma inconsciente. A repetição tem como objetivo se manter fiel ao clã, a sua história e nosso pertencimento a ele. Há também uma busca pela sobrevivência do sistema.

 

Em algumas situações, onde a carga do clã é mais difícil, pode haver um esforço consciente em não repetir os mesmos atos. De certa forma, ao negar, também permanecemos vinculados ao que repelimos. Não somos “livres”. Não repetimos, mas isso nos mantém conectados com o que negamos.

 

Conceitos importantes

 

A Psicogenealogia se utiliza de conceitos provenientes de outras linhas de estudo da psicologia, como psicanálise, teoria sistêmica, entre outras. Vamos olhar para alguns deles nos parágrafos a seguir.

 

Transgeracionalidade: é o termo que fala sobre o que passa “através das gerações”. Na psicogenealogia pode ser tratado como a influência que a geração passada exerce sobre a geração presente. A idéia surgiu primeiramente com Freud, onde no livro “Totem e Tabu” ele fala da transmissão de conteúdos inconscientes através de gerações .

 

Síndrome de Aniversário: Consiste na repetição de datas, em anos diferentes entre integrantes de um mesmo sistema, mas em gerações distintas. As vezes há repetição de datas de nascimentos (ou muito próximas), de mortes, acidentes, casamentos, entre outras. Muitas vezes, por exemplo, datas de luto podem ser lembradas através de uma fragilidade de saúde em um membro de uma geração posterior. Esse sintoma sistêmico é uma forma de trazer pertencimento a todos.

 

 

 

Lealdade Familiar: também conhecido como lealdade invisível. Imagine que em um sistema familiar há um caderno de contas e que, muitas vezes, um membro que chega depois ao sistema (por exemplo um filho) pode tender a querer “compensar, pagar, quitar” algo que é de quem veio antes (os pais ou avós por exemplo). É como se eles fossem tomados pela árvore para concluir algo que não foi possível ou para solucionar algo que ficou mal resolvido em uma geração anterior. Assim como Bert Hellinger, Anne Ancelin fala que “o que recebemos de nossos pais, daremos aos nossos filhos.”

 

Sindrome de Gisant: Foi desenvolvido pelo Dr. Salomon Sellam e apresentado em seu livro Le Syndrôme du Gisant – un subtil enfant de replacemente (Sindrome de Gisant – um filho de substitução, em tradução livre) em 2001. Gisant é algum integrante do sistema que insconscientemente traz à tona um drama vivido anteriormente pela família. O Gisant busca uma reparação ou reação a um evento ocorrido nas gerações anteriores.

 

Genossociograma: a ferramenta de trabalho de um psicogenealogista

 

O principal ponto de partida deste trabalho é o genossociograma, explica Ana Garlet.

 

Na prática, quando dizemos que estamos fazendo um trabalho de psicogenealogia, quer dizer que estamos coletando informações para compreender nossa história. Desenhamos nossa árvore e incluímos todas as pessoas e dados que conhecemos, de forma mais completa possível.

 

Interessa para a psicogenealogia, sobre os antepassados, de 3 até 7 gerações e às vezes até mais… Olhamos para a profissão que exerceram, as datas de nascimento, casamento, falecimento, separação, doenças; todos os filhos nascidos e não nascidos, movimentos migratórios, segredos guardados, histórias trágicas.

 

São importantes os nomes de cada pessoa, assim como lugares em que residiram. Tudo vai sendo registrado e é surpreendente o que vai acontecendo durante o trabalho: há conexões e repetições de fatos e datas que começam a saltar aos olhos, e vamos compreendendo melhor tudo o que recebemos de legado emocional e social, “porque” nossos pais e avós sentiam e pensavam de determinadas formas, o que atuava na vida de cada um que veio antes de nós.

 

Nossa família e nossa história

 

Assim como as Constelações Familiares, a Psicogenealogia também reconhece a influência que a história familiar pode exercer nas gerações posteriores. Essa influência pode se manifestar como algo bom ou ruim.

 

Quando a repetição se torna pesada e nos traz dificuldades, temos a opção de olhar para o que atua considerando que o nossa fidelidade e lealdade ao sistema familiar pode estar causando a identificação que nos traz o problema.

 

Dentro de nossa árvore genealógica encontraremos também toda a força que precisamos para seguir e, só a partir dela é que poderemos criar algo novo e nos dirigirmos para o mais.

 

Quando olhamos para o que atua, fica mais possível de tomarmos a decisão de e assumir a responsabilidade pelo nosso destino e o nosso caminhar na vida. Honramos as histórias passadas, reconhecemos nela parte de nossa própria história e seguimos dentro do que nos pertence.

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