Ken Wilber
Kenneth Earl Wilber II nasceu na cidade de Oklahoma, EUA, em 31 de janeiro de 1949. Filósofo, cientista, pensador e, como ele próprio se autodefine, um contador de histórias que tratam de perguntas universais. Atualmente, vive em Denver, Colorado.
Sua obra concentra-se com afinco na integração das mais diversas áreas do conhecimento, com uma preocupação em unir ciência e religião - apoiando-se em sua própria experiência e na de mestres de todas as grandes tradições de sabedoria ocidentais e orientais.
Embora seja considerado um dos fundadores do movimento da “Psicologia Transpessoal”, ele se desligou do mesmo em 1983, criando o campo dos “Estudos Integrais”, do qual faz parte a “Psicologia Integral”.
Ken Wilber viveu em diversas cidades ao longo de sua vida escolar, pois seu pai pertencia à Força Aérea Americana. Completou o segundo grau em Lincoln, Nebraska, e começou a estudar medicina na Duke University. Durante seu primeiro ano de faculdade, perdeu o interesse em seguir a carreira médica e começou a estudar psicologia e filosofia, além de dedicar-se à prática espiritual, desde então atividade presente em sua vida e sua obra. Ele retornou à Nebraska para estudar bioquímica mas, após alguns anos, abandonou o mundo acadêmico (com um mestrado em bioquímica) para dedicar todo o seu tempo a escrever.
Com 27 livros e dezenas de artigos sobre espiritualidade, filosofia e ciência lançados em mais de 30 idiomas, Wilber é atualmente o autor acadêmico mais traduzido nos Estados Unidos. Pela natureza básica e pioneira de seus insights, ele foi chamado de o "Einstein da consciência".
Em 1998, fundou o Integral Institute, organização dedicada ao detalhamento, difusão e implantação do “Modelo Integral”, por ele desenvolvido ao longo das últimas quatro décadas
A PRÁTICA DA VIDA INTEGRAL
EU SOU nada mais é do que o Espírito na
primeira pessoa, o Ser último, sublime e
radiante criador de tudo e de todo o
Cosmos, presente em mim, em você, nele,
nela e neles – como a percepção sempre
presente do “Eu sou” que todo e cada um
de nós sente.
(WILBER, 2008: 220)
Nas últimas décadas, vem de fato ocorrendo uma ampla
procura por um mapa que seja capaz de abarcar todos os
potenciais humanos. Esse mapa leva em conta todos os
sistemas e modelos conhecidos de desenvolvimento humano
– desde os xamãs e sábios da antiguidade até as grandes
descobertas atuais da ciência cognitiva – e decompõe seus
principais componentes em cinco fatores simples, fatores
esses que são elementos essenciais ou chaves que destravam
e impulsionam a evolução humana.
Bem-vindo à Abordagem Integral.
(WILBER, 2008: 17)
Um Eu que navega nas ondas do desenvolvimento... É assim que Ken Wilber
(2004 e 2008) faz uma introdução à “Abordagem Integral da Vida, de Deus, do
Universo e de Tudo Mais”. À medida que se prossegue à leitura de sua obra1, é possível
comprovar que os “cinco elementos essenciais” são aspectos de nossa própria
experiência: quadrantes, níveis, linhas, estados e tipos. Segundo o autor, a
Abordagem Integral permite que se enfrente qualquer situação, com maior
probabilidade de êxito.
O referido autor é considerado um dos fundadores do movimento da “Psicologia
Transpessoal”, mas dele se desligou em 1983, criando o campo dos “Estudos Integrais”,
do qual faz parte a “Psicologia Integral”. É um dos maiores filósofos e pensadores
contemporâneos; chamado de o "Einstein da Consciência" por sua síntese das mais
importantes tradições psicológicas, filosóficas e espirituais do Oriente e do Ocidente.
Sua obra visa a integrar o conhecimento humano, apresentando uma visão
coerente que interliga harmoniosamente ciência, filosofia, arte, ética e espiritualidade. É
o fundador e presidente do Integral Institute, que congrega mais de 400 pesquisadores
nas áreas de Educação, Negócios, Política, Ecologia, Direito, Psicologia, Medicina, Arte
e Espiritualidade, entre outras.
Por sinal, vastíssima: até agora, 23 livros e centenas de artigos e ensaios.
É o escritor acadêmico mais traduzido dos EUA. Alguns de seus livros, já
traduzidos para o Português, são: O Espectro da Consciência; A Consciência sem
Fronteiras; O Projeto Atman; O Paradigma Holográfico; Um Deus Social;
Transformações da Consciência; O Olho do Espírito; A União da Alma e dos Sentidos;
Psicologia Integral; Uma Teoria de Tudo; Boomerite; Graça e Coragem; A Visão
Integral.
O próprio filósofo define sua obra em cinco fases:
Primeira fase (1979)
Identificação com a psicologia junguiana e a filosofia romântica,
vendo o crescimento espiritual como um retorno ao Self.
Segunda fase (1980-1982)
Ênfase na psicologia do desenvolvimento; aprofunda seus estudos
da consciência, agregando filosofias ocidentais e orientais. Nesta
fase, o crescimento espiritual é fruto do processo de
amadurecimento.
Terceira fase (1983-1987)
Compreende o amadurecimento como um processo complexo, em
que é necessário um equilíbrio do Self entre o desenvolvimento
cognitivo, emocional, social e espiritual; dentre outros. De 1987 a
1995, praticamente não publica, devido a questões pessoais - em
especial a grave doença de sua esposa, falecida em 1989.
Quarta fase (1995-2001)
Sua teoria ganha dimensões socioculturais, através da teoria dos
quadrantes (eu, isto, nós, istos; intencional, neurológico, cultural e
socioeconômico), a aplicação dos mesmos a todo o conhecimento
humano, sua interdependência, e o "fundamentalismo" de visões
(filosofia, ciências, espiritualidade, psicologia, etc) baseadas em
apenas um destes aspectos.
Quinta fase (2001-)
Fase "pós-metafísica"; parte para uma visão mais integral de sua
teoria. A questão transcendente permanece, mas há uma
compreensão de todos os níveis da Espiral Dinâmica, inclusive os
"mundanos"; em lugar de sua abordagem metafísica
(evolução/involução) anterior. Seu próprio modelo passa a ter
uma abrangência que se estende a todos os quadrantes, tipos,
níveis, linhas e estados previamente definidos em sua prospecção
do conhecimento humano.
Com o presente trabalho, pretendemos apresentar uma pequena introdução à
obra de Ken Wilber, expondo uma síntese dos fundamentos para a prática de uma vida
integral, após expormos os elementos e o funcionamento do mapa integral e os
princípios gerais de uma psicologia integral.
UM MAPA INTEGRAL
O Mapa Integral é apenas um mapa. Ele não é o território. É
evidente que não queremos confundir o mapa com o território –
mas tampouco queremos trabalhar com um mapa defeituoso.
Você iria querer sobrevoar as Montanhas Rochosas com um
mapa inexato? O Mapa integral é apenas um mapa, mas é o
mapa mais completo e preciso de que dispomos hoje.
(WILBER, 2008: 18)
Uma outra denominação para o Mapa Integral é o Sistema Operacional Integral
(SOI). Em analogia ao sistema operacional em uma rede de informações, o qual é a
infraestrutura que permite operar os vários programas, o SOI pode ser usado para
“ajudar a indexar qualquer atividade – desde artes, dança, negócios, psicologia e política
até ecologia e espiritualidade” (WILBER, 2008: 19), possibilitando a cada um desses
domínios comunicar-se com os outros.
OS ELEMENTOS
Os “cinco elementos essenciais” do SOI ou da Metateoria AQAL (todos os
quadrantes e todas as linhas) são aspectos de nossa própria experiência: quadrantes,
níveis, linhas, estados e tipos. A realidade humana é assim descrita em quatro (4)
quadrantes: o que mostra o Eu Individual (consciência, realidades subjetivas; que
existem dentro de cada um), o que revela o Exterior Individual (organismo, os
comportamentos observados), o que revela a cultura da nossa vivência com o mundo
(cultura, o Nós) e o Exterior Coletivo (ambiente, a sociedade, os comportamentos
observados desde o exterior para o conjunto da humanidade).
A evolução se dará então através de diferentes níveis que vão atravessando o Eu
e as suas subpersonalidades e dimensões (moral, afetivo, identidade, cognição,
criatividade etc., e que podem seguir percursos independentes). D tradição da prémodernidade,
Wilber resgata o Grande Ninho do Ser. Da modernidade, utilizou a
diferenciação dos valores culturais: a diferenciação da arte, da ética e da ciência, ou a
estética do “eu”, a moral do “nós” e os “istos” da ciência; relatos de 1ª pessoa, de 2ª
pessoa e de 3ª pessoa; eu, cultura e natureza.
Existem então níveis possíveis de evolução havendo alguns níveis prévios
anteriores à formação da personalidade e outros níveis posteriores à personalidade, por
conseguinte, transpessoais. Em cada um dos níveis de desenvolvimento, o ser humano
tem uma visão diferente do mundo e que se vai aprofundando e ampliando à medida que
a pessoa evolui.
São várias as linhas de desenvolvimento. Cada pessoa pode demonstrar
desenvolvimento avançado em determinada área (cognitivamente) e baixo em outra (a
moral, por exemplo). Gardner desenvolveu a ideia de inteligências múltiplas, aqui
aproveitadas por Wilber. As inteligências cognitiva, interpessoal, moral, emocional e
estética também são chamadas de linhas de desenvolvimento por apresentarem
crescimento e desenvolvimento em estágios progressivos.
Cabe ressaltar uma diferenciação feita por Wilber entre estado e estágio. Os três
estados naturais de consciência são a vigília, o sonho e sono profundo. Existem
outros estados também: o estado meditativo, os estados alterados de consciência (como
os induzidos por drogas, esforço intenso etc) e uma grande variedade de experiências de
pico (êxtase etc). Os estados, geralmente excludentes (sono ou vigília), podem ser
vivenciados por qualquer pessoa e ocorrem em todos os níveis. Através de uma
experiência de pico, os domínios transpessoais podem ser atingidos.
Os estágios ou níveis precisam ser desenvolvidos; são potencialidades. Uma vez
desenvolvidos, tornam-se permanentes; coexistem entre si (transcendem e incluem). No
modelo de Ken Wilber, a consciência se organiza em esferas evolutivas que
sucessivamente incluem e transcendem a camada anterior. A vida inclui e transcende a
organização física e molecular onde ocorre; a mente, por sua vez, inclui e transcende a
vida; a alma inclui e transcende a mente; e o espírito, a alma.
A idéia de que qualquer "todo" conhecido é apenas um "holon" (parte de um
"todo maior", conceito holístico emprestado de Arthur Koestler) aplica-se também a
átomos, moléculas e organismos; letras, palavras, frases, páginas, livros e idéias; e à
própria consciência humana, um holon que se manifesta em quatro quadrantes: eu, isto,
nós, "istos" (isto coletivo).
Por este modelo, a negação das camadas vistas como "inferiores" (comum a
vários sistemas filosóficos e religiosos), seria um equívoco; assim como o descarte, por
parte de alguns campos da ciência, de toda esfera que transcenda os limites de sua visão.
A visão científica em geral considera um "cosmos" da realidade física como
"todo", e não um holon. Isso implica a visão de que apenas a física e causalidade seriam
as ciências perfeitas e reais. Wilber propõe a retomada do conceito grego de "Kosmos",
que inclui não só a matéria, mas também a vida, a mente, a alma e o espírito. Assim,
uma visão materialista encontraria explicações para o domínio de seu "olho do físico",
criando teorias para o cosmos. Já uma visão de Kosmos implicaria o desenvolvimento
de um "Olho do Espírito", uma vez que causas oriundas de um holon transcendente
pareceriam inexplicáveis, se considerado apenas a esfera anterior.
Wilber também expande o conceito da Dinâmica da Espiral de Clare W. Graves,
um modelo dos estágios do desenvolvimento humano, aplicável a vários campos, de
acordo com uma visão do mundo mais ou menos individual, familiar, coletiva ou
holística.
Segundo o filósofo, a maioria das visões espirituais e psicológicas incorre numa
visão dualista (racional ou espiritual, ciência ou religião, ego ou essência do ser). Para
Wilber, contudo, há um modelo de três camadas (pré-pessoal, pessoal e transpessoal;
mítico, religioso ou místico; corpo, ego ou Ser; instinto, intelecto ou intuição; natureza,
cultura ou Kosmos), e há uma falácia ao incluirmos as experiências pré-pessoais na
coluna "espiritual" do modelo anterior. Assim, sua análise discerne, no dito espiritual,
aquilo que é "transpessoal" e evolutivo daquilo que seria "pré-pessoal".
O próximo componente do Mapa Integral é simples: cada um dos componentes
anteriores tem um tipo masculino ou feminino, por exemplo. Com tipos, Wilber se
refere a aspectos que podem estar presentes em praticamente todos os estágios ou
estados. Podemos ser um dos tipos em qualquer estágio de desenvolvimento. São as
chamadas “tipologias horizontais” (tipos junguianos, Eneagrama, Myers-Briggs etc),
que, diferentemente dos estágios ou níveis “verticais” – estágios universais, ressaltam
algumas orientações possíveis de serem encontradas ou não nos indivíduos (nem todos
se ajustam a uma determinada tipologia, mas todos atravessam as ondas básicas da
consciência).
PRÁTICA DA VIDA INTEGRAL
Como já vimos, segundo Wilber, o argumento básico da filosofia perene é que
homens e mulheres estão imersos na Grande Cadeia do Ser. Isto é, temos em nós
matéria, corpo, mente, alma e espírito. Quando se trata de doença e saúde, o autor é
enfático: “Para cada doença, é extremamente importante tentar determinar que nível ou
níveis primariamente a originam – físico, emocional, mental ou espiritual. É muito
importante usar procedimento do "mesmo nível" (mas não necessariamente o único)
para o rumo inicial do tratamento. Use intervenção física para doenças físicas, terapia
emocional para distúrbios emocionais, métodos espirituais para crises espirituais e
assim por diante. No caso de uma mistura de causas, use uma mistura de tratamentos
dos níveis apropriados.” (WILBER apud RAYNSFORD, 2009)
A Prática da Vida Integral tem como objetivos manter os quatro quadrantes
equilibrados nos diferentes níveis e acelerar a transcedência para níveis de consciência
mais elevados nas diferentes linhas de desenvolvimento. O SOI (Sistema operacional
Integrante) pode ser aplicado a qualquer situação da vida diária: negócios, educação,
política etc.
Wilber sugere praticas de desenvolvimento e exercícios para os módulos centrais, o corpo(físico sutil e causal), mente(perspectiva e visão), espírito(meditação e oração) e sombra(terapia), também para os auxiliares, ética, sexualidade, trabalho,emoções e relacionamentos a serem realizados diariamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há um Espírito para cada uma das ondas de percepção, uma
vez que o Espírito é aquela mesma percepção que aparece nos
diferentes níveis de seu próprio desenvolvimento, a mesma
percepção que jaz adormecida nos minerais, se agita nas
plantas, se move nos animais, revive nos seres humanos e
retorna para si mesma no sábio desperto. E o mais
extraordinário é que todos nós – inclusive você e eu – somos
convidados a também nos tornarmos sábios despertos.
(WILBER, 2008: 153)
Os objetivos do modelo integral proposto por Ken
Wilber são:
• Mapear o ser humano e suas relações.
• Desenvolver a espiritualidade.
• Promover uma linguagem comum que permita o diálogo interdisciplinar.
• Integrar ciência e religião.
• Propor soluções integrais para os problemas atuais da humanidade.
• Proporcionar uma Prática da Vida integral.
Esperamos de alguma forma, ter contribuído para a divulgação de idéias tão
promissoras, incitando a ampliação dos estudos e, conseqüentemente, a prática de uma
vida mais saudável.
REFERÊNCIAS
WIKIPÉDIA, 2009.
PSICOLOGIA INTEGRAL. Disponível em: territoriosdamente.blogspot.com/
RAYNSFORD, Ari. Sistema Operacional Integral de Ken Wilber. (Curso oferecido em
2009).
.Quem é Ken Wilber. Disponível em: www.ariray.com.br, 2009.
WILBER, Ken. Psicologia Integral. Consciência, Espírito, Psicologia, Terapia. São
Paulo: Cultrix, 2002.
visão Integral: uma introdução à revolucionária abordagem
integral da vida, de Deus, do Universo e de tudo mais. São Paulo: Cultrix, 2008.
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